4 de fevereiro de 2009

FORASTEIROS EM UM MUNDO ESTRANHO

FORASTEIROS EM UM MUNDO ESTRANHO
A Busca pelo Significado e Esperança

O título desse artigo chama nossa atenção para uma das idéias mais importantes que Um Curso em Milagres ensina: Esse mundo não é o nosso lar, e, portanto, em algum lugar das nossas mentes que obviamente é desconhecido para nós, não nos sentimos como se pertencêssemos a esse lugar. Bem profundamente dentro de nós, realmente sentimos como se fôssemos forasteiros em um mundo estranho:

Esse mundo, em que pareces viver, não é a tua casa. E, em algum lugar da tua mente, tens o conhecimento de que isso é verdadeiro. A memória de casa continua te perseguindo, como se houvesse um lugar que te chamasse de volta, embora não reconheças a voz e nem o que essa voz te lembra. Mesmo assim, continuas te sentindo como um estranho aqui, vindo de algum lugar completamente desconhecido. Nada tão definido que possas dizer, com certeza, que és um exilado aqui. Apenas um sentimento persistente, em alguns momentos pouco mais do que uma diminuta pulsação, em outros vagamente relembrado, ativamente descartado, mas algo que com certeza vai voltar de novo à tua mente (LE-pI.182.1).

Muitas pessoas dão testemunho do fato de que efetuam uma busca por significado em suas vidas. De fato, de uma forma ou de outra, todos nós buscamos encontrar quem ou o que realmente somos, de onde verdadeiramente viemos, e de onde brota essa inquietude de alienação. Portanto, nós esquadrinhamos nossos sentimentos, lemos livros, cultivamos hobbies, viajamos para lugares diferentes, estudamos variados sistemas econômicos, religiosos, políticos e sociais, e nos comunicamos com pessoas diversas para conseguirmos alguma pista sobre nossa existência, e para descobrirmos a origem e a presença contínua desse sentimento inquietante de sermos um alienígena em um mundo que não nos lembramos de termos escolhido:

Ninguém que venha aqui deixa de ter ainda esperança, alguma ilusão remanescente, ou algum sonho de que haja alguma coisa fora dele próprio que lhe trará felicidade e paz... E assim ele vaga, sem objetivos, em busca de alguma coisa que não pode achar, acreditando que ele é o que não é. A ilusão remanescente o impelirá a buscar milhares de ídolos e outros milhares além desses (T-29.VII.2:1-3,9-11; 3:1-2).

No entanto, essa busca nunca resulta em nossa descoberta sobre de onde esse sentimento abstrato de alienação está realmente emanando: a crença de que nos separamos de Deus, nosso Criador e Fonte. E, então, nós passamos uma parte significativa de nossas vidas ou na busca para detectar a natureza exata desse desconforto, ou desistindo da busca logo no início, tentando nos moldar para nos adequarmos a esse mundo alienígena, adaptando-nos a seus numerosos caminhos. Nesse artigo, gostaríamos de discutir as duas formas nas quais gastamos nosso tempo – o tempo que chamamos de “Nossa vida” -, do ponto de vista do mundo (o ego), e do ponto de vista do Curso (o Espírito Santo).

Um Curso em Milagres nos ajuda a entender que, na verdade, não existe busca real aqui, apenas um ajuste e a adoção de metas e papéis que são direcionados a tornar nossa existência individual no mundo mais bem sucedida, mais prazerosa, e menos dolorosa. Além disso, o mundo olha com aprovação para indivíduos que se adaptam à sua cultura, classe, comunidade e país. Lutar por conta própria e desconsiderar as regras não-escritas não é geralmente aprovado com sorrisos, e a pessoa é passível de ser descartada como excêntrica ou até sociopata. A busca pelo significado existencial não é considerada uma forma séria ou apropriada de passar a própria vida, a menos que alguém seja um filósofo. Portanto, essa é a mensagem que vai atingir cada geração da mesma forma, na qual o sinal de maturidade é se tornar um bom cidadão, produtivo, pagador de taxas de algum país. Entretanto, se nos rebelamos, por “marcharmos seguindo uma batida diferente”, todas as nossas energias são direcionadas para a rebelião e para estabelecermos um estilo de vida alternativo, provando que o que a sociedade e nossa família esperavam de nós estava errado, para início de conversa. Dessa forma, terminando provando que estávamos certos o tempo todo sobre nossa separação e estado alienado de existência.

Mas a busca pelo significado ainda continua, um desconforto interno ainda é nossa experiência mais forte. É para escapar dessa dor que somos impelidos a nos distrair com o estilo de vida que escolhemos, para que esse sentimento doloroso seja empurrado para fora da nossa consciência, e cortado com um raio laser da nossa existência. E aqui, o mundo nos oferece todas as distrações com as quais já possamos ter sonhado. Nós podemos nos colocar em qualquer um dos muitos papéis que ele nos oferece, do eremita à pessoa de família, do asceta a um libertino que se entrega aos sentidos, do pecador ao santo, do indolente ao trabalhador fanático, de “ninguém” a “alguém”, de covarde a um bravo guerreiro, de um estúpido ignorante a um estudioso, e de uma orientação de egoísmo para uma de serviço abnegado, e qualquer outro papel possível, e, quando finalmente cumprimos todas as metas e papéis que estabelecemos para nós mesmos, tanto de forma tradicional quanto não-tradicional, a dor interna e o vazio se tornam ainda mais pronunciados. A busca pelo significado agora assume um ímpeto novo e desesperado.

O que devemos fazer agora? O que pode ser feito agora?

Nesse ponto, o ego nos aconselha, podemos começar uma nova busca, ou reacendermos uma previamente descartada, esperando – contra todas as expectativas – que a resposta ainda vá ser encontrada ao longo de um dos muitos caminhos secundários que o mundo contém. Novos interesses, novos hobbies, novas carreiras, novos lugares para se viver ou visitar, novos relacionamentos amorosos, novos amigos, e novos e exóticos caminhos espirituais – tudo é procurado para extinguir aquela ânsia interna, ajudando-nos a abandonar a busca pelo verdadeiro significado. Mas, mais uma vez, aquele senso de futilidade retorna, junto com a dor e anseio profundos que continuamente nos assombram, como uma sombra que nunca nos deixa. No entanto, parece que somos direcionados a perseguir um caminho que exaure todas as possibilidades e probabilidades que o mundo oferece:

Talvez preferisses tentar todas até aprenderes que realmente são apenas uma só. As estradas que esse mundo pode oferecer parecem ser muitas em número, mas tem que vir o tempo em que todas as pessoas começarão a ver como são semelhantes umas às outras (T-31.IV.3:2-6).
E portanto, estamos finalmente prontos para aceitar o pensamento de que “tem que existir um caminho melhor” (T-2.III.3:10).

Quando olhamos para essa situação quase universal da perspectiva do Um Curso em Milagres, podemos começar a discernir com clareza que estivemos muito enganados. Buscamos nos lugares errados, sob a orientação do professor errado, acreditando que podíamos substituir uma ilusão pela outra, e encontrar a alegria silenciando aquele desconforto interno com os novos brinquedos de especialismo do ego.

No Curso, somos ensinados por Jesus que esse mundo não é nosso lar, porque ele não foi criado por Deus, nossa Fonte, mas ao invés disso, ele foi feito por um pensamento de ataque; i.e., “O mundo foi feito como um ataque a Deus” (LE-pII.3.2:1). Além disso, a teologia do Um Curso em Milagres é muito clara: nós somos espírito, um Pensamento perfeito de amor em uma Mente perfeita, em unidade com nossa Fonte. Essa é nossa única Herança como Deus nos criou: em lugar algum nossa Fonte termina e nós começamos como algo separado Dela (LE-pI.132.12:4); Criador e criado são um, perfeitamente unidos em uma totalidade de abstração sem limites, além de todos os sonhos de separação, diferenças, individualidade e forma de qualquer tipo. E, então, lentamente surge em nós a compreensão de que nos adaptarmos ao que parece ser oposto ao Céu – i.e., esse mundo de especificidades concretas – só pode ser conseguido em um estado alucinatório, no qual o que é real é negado, e o que é ilusório é visto como real:

Quando fizeste com que fosse visível o que não é verdadeiro, o que é verdadeiro veio a ser invisível para ti (T-12.VIII.3:1-2).

No entanto, como forasteiros em um mundo estranho, como poderíamos acreditar em alguma outra coisa? Claramente então, buscar a felicidade, paz ou completude aqui precisa resultar em desilusão, pois como ela não viria da perseguição a ilusões? É preciso muita coragem para olharmos para essa insanidade, uma vez que colocamos tanto tempo e esforço em tornarmos esse mundo real. É preciso muita determinação e fé para examinarmos todas as crenças e esperanças que investimos nesse mundo, e percebermos que elas eram apenas defesas contra a verdade do Amor de Deus que o Espírito Santo sustenta para nós em nossas mentes certas. E é preciso a disponibilidade para admitirmos que estávamos errados em escolher o sistema de pensamento de separação do ego e as “dádivas” que ele enganosamente manteve para nós em suas falsas promessas de encontrarmos esperança e significado nesse mundo.

Nesse estado de humildade, nós finalmente pedimos ajuda, admitindo que todos os nossos caminhos não funcionaram, e que a busca por significado da nossa vida não produziu quaisquer resultados significativos. É nesse ponto que estamos prontos para uma mensagem de luz que possa trazer o alvorecer do pensamento de que não existe esperança de significado em um mundo de sonho de ilusões. Esse pensamento nos permite direcionar nossa busca para longe do mundo finalmente, e se torna o convite para o Espírito Santo, Cuja Presença em nossas mentes certas traz a memória do nosso verdadeiro Lar, nos lembrando de que “estamos em casa em Deus, sonhando com o exílio” (T-10.I.2:1). Essa Presença de Amor nos lembra de que estamos sonhando um sonho – um pesadelo -, cujo conteúdo não é verdadeiro (T-28.II.7:1). Além disso, somos informados de que existe um pensamento de Correção em nossas mentes certas para cada pensamento errôneo que o ego nos convenceu a aceitar. De fato, nos é dito que não somos nossos egos e, portanto, podemos tirar nossa aliança desse falso ser, em qualquer instante e lugar, em nossas mentes certas. Nesse processo, nós nos tornamos conscientes de que existe uma parte de nossas mentes que escolhe livremente escutar as mentiras do ego ou a verdade do Espírito Santo. Nós chamamos essa parte das nossas mentes de tomadora de decisões.

Muitos insights vão ocorrer em nós conforme prosseguirmos em nossa jornada para o despertar: por exemplo, nós podemos entender que a morte não é um fim, mas uma continuação não-linear de um tema em um sonho contínuo, que afirma que existe um oposto ao que Deus criou. Nós agora podemos sorrir diante das idéias que os teólogos ensinaram e guardaram como relíquias por séculos: de que Deus criou a morte como o fim da vida, em cujo ponto Ele leva as pessoas de volta a Ele, ou as manda para o purgatório, ou talvez até mesmo as condena ao inferno. Nós podemos começar a nos questionar como poderíamos jamais ter acreditado em um Deus assim. Tendo aceitado o perdão para muitas das mágoas que carregamos em nossas mentes, também começamos a perceber que a ira e punição de Deus é um conceito no qual não podemos mais acreditar. Ele é insustentável para uma mente que o perdão agora está curando:

Aqui não é possível nenhuma transigência. Ou existe um deus do medo, ou um Deus do Amor. O mundo tenta fazer mil transigências e tentará fazer outras mil. Nenhuma pode ser aceitável para os professores de Deus, pois nenhuma seria aceitável para Deus. Ele não fez a morte porque Ele não fez o medo. Ambos são igualmente sem significado para Ele (MP-27.4:5-10).

Sempre atentos para pedirmos a ajuda de Jesus ou do Espírito Santo, nós finalmente encontramos um novo significado e esperança em nossas vidas: nos tornarmos iluminados para a verdade. O foco em nossas vidas se torna pedir ajuda para mudarmos nossas atitudes e questionarmos nossos valores, e para aceitarmos o perdão como nossa função e propósito. Pois é essa mudança das nossas mentes erradas para nossas mentes certas que remove as barreiras à nossa consciência e reconhecimento da verdade. Como o Curso afirma: “A iluminação é só um reconhecimento, não é uma mudança em absoluto” (LE-pI.188.1:4).

Portanto, ao invés de ficarmos perturbados por descobrirmos que esse mundo e esse corpo não são nosso lar, nós nos tornamos “aprendizes felizes”. Em um alegre reconhecimento do nosso novo Professor, nós percebemos que o significado das nossas vidas é aceitarmos os sonhos felizes do Espírito Santo como um substituto para os pesadelos que o ego nos ofereceu. Como Jesus nos conforta, em palavras que descrevem o ato de cruzarmos a ponte para o mundo real: “E vais pensar, em feliz espanto, que por tudo, de nada desististe!” (T-16.VI.11:4). Nós, portanto, estamos felizes em aprender que todos os nossos esforços agora podem ser alinhados com o propósito de aceitarmos a Expiação para nós mesmos. Somos ensinados por Jesus que esse é um processo de desfazer, no qual todos os pensamentos que pensamos pensar à parte de Deus serão gentilmente desfeitos pelo perdão que o Espírito Santo mantém para nós, Que só pede que o aceitemos de Suas mãos amorosas. E, dia a dia, hora a hora, conforme todos os nossos pensamentos inconscientes da mente errada sobem à superfície em nossa consciência, nós agora temos um método no qual podemos permitir que sejam removidos para nós. Portanto, nossas vidas vêm a refletir o único significado e esperança verdadeiros que poderíamos atingir: aceitar nosso Ser como Deus nos criou, e termos a imagem esfarrapada que fizemos sendo desfeita e substituída pela resplandecência de Cristo. Portanto, nós despertamos para o fato de que o mundo real é o nosso lar longe do Lar, a partir do qual Deus dá o “último passo”, abaixando-Se e nos elevando até Ele (T-11.VIII.15:5).


(Volume 8, número 3, setembro 1997) - Gloria Wapnick - Kenneth Wapnick, Ph.D.
Tradução: Eliane Ferreira de Oliveira

Minha gratidão Eliane por tão preciosa tradução! Te amo. Sou grata. Lena



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