27 de junho de 2013

O que vi no astral das passeatas de Belo Horizonte - 23/06/13

Por precaução de médium, fechei meus chacras de proteção e fui para a multidão como uma pessoa comum. Eu e meus filhos. Era 22 de junho de 2013. Estava em pleno auge um movimento inesperado naquela semana que poderíamos chamar #BRASILACORDOU.

Primeiramente farei um pequeno apanhado do que vi no plano físico.

Ao contrário do que muitos dizem, o clima astral da passeata tinha a marca dessa geração nova que está reencarnando nos últimos 20 anos: espíritos inquietos, porém, com bondade no coração. Inteligentes e sensíveis a uma nova ordem social, desejosos de paz e justiça.

Fiz questão de ver de perto a enorme diversidade: médicos, aposentados, gays, militares, professores, religiosos, jornalistas, velhos, crianças e muitos grupos radicais. Em nenhum deles senti o clima da maldade ou da intolerância.

Depois que me senti mais seguro no clima da multidão, passei então a abrir minhas antenas psíquicas e meus chacras de sintonia. Percebi muitos espíritos na mesma faixa de idade dos manifestantes no astral acompanhando cada grupo. Jovens, muitos jovens. Vi também parentes de muitos deles que já partiram para a vida espiritual.

Liguei-me mentalmente com meus benfeitores espirituais. Apareceu-me dona Maria Modesto e me disse: “iluminista essa passeata! Aqui está um futuro melhor. Daqui sairão presidentes e governantes. Esses jovens trazem um mapa mental para encontrarmos o caminho da estrutura política da regeneração. Essa passeata, de fato, não tem nada a ver com seu estopim: R$ 0,20 de ajuste no preço da passagem de ônibus.”

Fiquei intrigado com a fala dela e resolvi perguntar: a senhora pode me dizer algo sobre o ambiente espiritual geral dessa passeata?

Ela me respondeu: “é um ambiente melhor do que muitos lares que eu já visitei. Aqui há esperança, ideal, sensação de utilidade e desejo de avançar.”

Então, é um ambiente bom? – indaguei novamente. Ela detalhou: “Espíritos de grande elevação moral e política, cientes da panela de pressão vibratória que estava se tornando o país, perceberam a importância de trabalhar com as lideranças de diversos segmentos, nos últimos 6 meses, a bandeira das manifestações públicas para aliviar tensões e formar uma nova radiografia social para que os governantes atentem para o que vem acontecendo e para o que vai acontecer. Os espíritos que coordenam a política e a administração do país não de apassivam diante de tanta injustiça, corrupção e impunidade. Diariamente eles adentram o astral da câmara e do senado, da presidência e da forças armadas, em busca de filetes de luz para promovem o bem social.”

Parei um pouco para pensar no que ela me disse e resolvi andar mais um pouco pela multidão, já em transe vivendo as manifestações de cá e de lá. Quanto aos detalhes do assunto, peço a compreensão dos meus amigos para não citar agora, porque ainda terei que fazer várias investigações em algumas revelações mediúnicas que preciso examinar com cautela.

Eu procurei no ambiente astral os vândalos que fazem baderna. Não achei um. Então resolvi perguntar sobre o assunto a dona Modesta e ela disse: “No plano espiritual fica mais viável fazer controle dessas criaturas. Há um perímetro de atuação que os limitam”.

Indaguei novamente: mas e quanto aos vândalos daqui? “São pessoas que não tiveram o que mais clama a passeata: educação. Nem sempre estão a serviço de opositores políticos da passeata e nem sempre são criminosos no comportamento. São imaturos, desordeiros e alguns até fazem isso porque acreditam, infelizmente, que é assim que se corrigem as coisas na sociedade."

Perguntei mais: então eles não são acompanhados pelos vândalos do astral?

“Eles mantém conexão mental com suas companhias que, à distância, os incendeiam as más intenções. Isso não temos como evitar já que faz parte da rotina dessas criaturas de cá e daí. Mas assim como acontece no mundo físico, são contidos logo que iniciam suas loucuras. Como já temos melhores chances de identifica-los no astral, ao contrário de vossa polícia que não os identifica até que iniciem a baderna, nós já o contemos do lado de cá para proteger o ambiente ordeiro e consciente das multidões bem intencionadas. Temos uma polícia muito melhor preparada do que a vossa para isso.”

Adorei a experiência como cidadão e como médium. Fiquei pensando no quanto nossas orações e atividades mediúnicas e obras sociais são importantes nesse propósito de construir um mundo melhor, todavia, também meditei nessa semana no quanto a comunidade espírita é omissa e ainda acredita em fantasias a respeito de uma “pátria do evangelho e coração do mundo” sem ação e coragem social.

Entre os grandes líderes espíritas, tenho que parabenizar a Divaldo Franco, Djalma Argollo e José Medrado ( os baianos mandando bem) por terem se posicionado claramente a respeito do assunto.

Para encerrar minhas reflexões vou transcrever novamente o post que fiz no facebook essa semana contendo o pedido dos espíritos e informando sobre a presença de alguns deles nesse movimento por um Brasil mais maduro e melhor:

Os guias espirituais estão pedindo muita oração pelo país. (abaixo coloco o nome de alguns que fiz contato e outros que enviaram seus pedidos)

Eles pediram que em minhas orações eu peça coragem para que o povo brasileiro tenha ATITUDE.

Muita gente espírita acredita que vão mudar as coisas nesse país a poder de oração e sopa fraterna. Nada contra eles! Essas são ótimas atitudes, sem dúvida.

Porém, uma das manipulações mais sutis dos poderes sombrios dos desencarnados é manter o povo inerte e acreditando na força divina para mudar as coisas, quando, em verdade, quem muda um país somos nós mesmos com nossa própria mudança, inclusive saindo dessa hipnose coletiva em que se encontrava o Brasil. #BRASILACORDOU

Nomes citados por dona Modesta hoje durante a psicografia de hoje de manhã: Freitas Nobre, Gonzaguinha, Vicente Celestino, Dom Helder, Virgulino, Bezerra, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Albert Schweitzer, Mãe Menininha, Zilda Arns, Caboclo Mário Juruna, Darci Vargas, Dr. Mario Covas. Estes são alguns que me lembro.

Presentes na psicografia: Dom Helder, Schweitzer, Dr. Inácio, José Mario, Zumbi dos palmares e Inhá Chica.

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Divino Criador pai, mãe, filho em um...
Se eu, minha família, meus parentes e ancestrais, ofendemos à sua família, parentes e ancestrais, 
em pensamentos, palavras, fatos e ações, do início de nossa criação até o presente, nós pedimos o seu perdão.
Deixe isto limpar, purificar, libertar, cortar todas as recordações, bloqueios, energias e vibrações negativas e transmute essas energia indesejáveis 
em pura luz. Assim está feito!
Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grata.

18 de junho de 2013

“É absolutamente seguro morrer. É como tirar um sapato apertado”: Ram Dass, Emmanuel e nosso medo da morte



Ram Dass está certo? Quem não gostaria que ele estivesse?

O texto abaixo é um artigo que o conhecido autor e psicólogo Ram Dass, ou Richard Alpert, escreve sobre a aceitação da morte e a certeza de que ela é apenas uma transição entre estados de Ser – e que o que morre (e teme) é apenas o ego. Seguidor do grande sábio indiano Ramana Maharshi (1879-1950) e discípulo de Neem Karoli Baba (1900?-1973), Ram Dass cita seus mestres, seu grande amigo Emmanuel (de quem vem a expressão do título “é como tirar um sapato apertado“) e o Livro Tibetano Dos Mortos como referências para afirmar que a morte é apenas um estágio, descrevendo sua transformação de um psicólogo cético de Harvard em um servo amoroso de pessoas no leito da morte — passando por suas experiências com químicos psicodélicos nos Anos 70. Mas além de citar suas referências, cita sua própria experiência e conta como atravessou o terreno da negação e da crença, em direção à sabedoria.

O texto abaixo é uma tradução livre do artigo “Dying Is Absolutely Safe” (Morrer é Absolutamente Seguro), que está publicado em seu site, ramdass.org.
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 É Absolutamente Seguro Morrer” [TRECHO]
Por Ram Dass

Há uma tumba em Ashby, Massachusetts, que diz “Lembre-se amigo, conforme você passa por aqui, como você é agora, eu também fui. Como eu sou agora, você deve ser. Prepare-se para me seguir”.

Alguma coisa aconteceu comigo como resultudo de circular através de muitas dimensões da consciência nos últimos cinquenta anos que mudou minha atitude em relação à morte. Muito do medo da morte se foi de mim. Sou uma pessoa que na verdade gosta de estar com pessoas quando elas estão morrendo É uma benção incrível para mim. Na manhã, seu eu sei que estarei com uma pessoa dessas, fico absolutamente encantado porque sei que vou ter uma oportunidade de estar na presença da Verdade.

Em nossa cultura, agora está se tornando aceitável morrer. Por muitas décadas, a morte era mantida atrás de portas fechadas. Mas agora estamos permitindo que ela saia. Tendo crescido nessa cultura, os primeiros poucos meses que passei na Índia nos Anos 60 foram uma experiência e tanto.  Lá, quando alguém morre, eles colocam sobre uma maca, enrolam em um lençol e carregam pelas estradas até o recinto de cremação enquanto um mantra é cantado. A morte está aberta para todos verem. O corpo está la. Não está numa caixa. Não está escondido. E porque a Índia tem uma cultura de famílias estendidas, a maioria morre em casa. Então a maioria das pessoas, conforme vão crescendo, acabam vivendo na presença de alguém que está morrendo. Eles não abandonam o lugar e se escondem disso como fazemos no Ocidente.

Eu certamente fui uma das pessoas nesta cultura que se esconderam da morte. Mas, ao longo das últimas décadas, mudei radicalemente. A primeira mudança veio como resultado de minhas experiências com químicos psicodélicos. Entrei em contato com uma parte do meu ser que eu não tinha conhecido em minha vida adulta. Eu era um psicólogo ocidental, professor em Harvard e um filosófo materialista. O que eu experimentei através dos psicotrópicos foi extremamente confuso, porque não havia nada no meu passado que me preparou para lidar com outra parte do meu ser. Depois que comecei a me sentir como um “Ser da Consciência” – em vez de um psicólogo, ou de um conglomerado de papéis sociais, a experiência mudou profundamente a natureza da minha vida. Mudou quem eu pensava que era.

Antes da minha primeira experiência com drogas psicodélicas, eu me identificava com o que morre – o ego. O ego é quem eu penso que sou. Agora, eu me identifico muito mais com quem eu realmente sou – a Alma. Enquanto você se identificar com aquilo que morre, sempre haverá o medo da morte. O que o nosso ego teme é a cessação da sua própria existência. Embora eu não sabia que forma eu tomaria após a morte – percebi que a essência do meu ser – e a essência da minha consciência – está além da morte.

O mais interessante para mim na época foi que minha primeira experiência com psicodélicos foi absolutamente indescritível. Eu não tinha conceitos para aplicar o que eu estava descobrindo do meu próprio ser. Aldous Huxley me deu um exemplar de O Livro Tibetano dos Mortos. Ao lê-lo, fiquei surpreso ao encontrar  descrições lúcidas e claramente articuladas das mesmas experiências que eu estava tendo com psicodélicos. Foi muito confuso para mim, porque O Livro Tibetano dos Mortos tem 2.500 anos de idade. Eu pensava que, em 1961, eu estava na vanguarda do desconhecido. Mas aqui estava um texto antigo que revelava que os budistas tibetanos já sabiam – há 2500 anos – tudo o que eu tinha acabado de aprender.

O Livro Tibetano dos Mortos foi usado por lamas budistas tibetanos para ler aos seus colegas lamas enquanto eles estavam morrendo, e por 49 dias após suas mortes. Tim Leary, Ralph Metzner e eu começamos a ver o livro em termos metafóricos, como a história da morte e renascimento psicológico, apesar de ter sido originalmente concebido como um guia através do processo da morte física e do renascimento. Agora eu acho que a idéia de morrer e nascer para a Verdade, ou a Sabedoria, ou Espírito, é realmente a essência do assunto quando falamos de morte. Quando você livrar-se da identificação sólida com seu corpo, você começa a ter o espaço que permitir a possibilidade da morte ser uma parte do processo da vida – e não o fim da vida. Eu sinto isso muito profundamente.

As pessoas me perguntam: “Você acredita que existe uma continuidade após a morte?” E eu digo: “Eu não acredito. É assim. “Isso ofende meus amigos científicos ao último nível. Mas a crença é algo que você segura com seu intelecto. Minha fé na continuidade da vida tem ido muito além do intelecto. A crença é um problema porque está enraizada na mente, e no processo de morte, a mente se desintegra. A fé, a consciência e a presença existem todas além da mente pensante.

Eu tenho um amigo chamado Emmanuel. Alguns de vocês já o conhecem através de livros dele. Ele é um espectro, um ser de luz que já deixou seu corpo. Emmanuel compartilha um monte de grandes sabedorias. Ele é como um tio para mim. Uma vez eu disse a ele: “Emmanuel, muitas vezes tenho que lidar com o medo da morte nesta cultura. O que devo dizer às pessoas sobre a morte? “E Emmanuel disse: ”Diga-lhes que é absolutamente seguro! “Ele disse:” É como tirar um sapato apertado”.

No passado, o que procurei fazer em parceria com Stephen e Ondrea Levine, Dale Borglum e Bodhi Be (um amigo meu Sufi) foi a criação de espaço em torno da morte. Tivemos diversos programas, como o “Atendimento aos Que Estão Morrendo”, onde as pessoas podiam ligar e ter uma espécie de conversa de travesseiro com outras pessoas que queriam ajudá-las a ficarem conscientes durante o processo de morrer. No início dos anos oitenta, nós também tínhamos um Centro Para Morrer no Novo México (EUA). Minha ideia era que eu sabia que estar com as pessoas que estavam morrendo iria me ajudar a lidar com o meu próprio medo da morte nesta vida.

Nas tradições budistas Theravada, eles mandam monges para passar a noite no cemitério, onde os corpos são jogados fora descobertos para os pássaros comerem. Assim, os monges se sentam ao lado de cadáveres inchados, infestados de moscas, e seus esqueletos, e têm a oportunidade de estar plenamente consciente de todos os processos da natureza. Eles têm a oportunidade de assistir ao seu próprio nojo e ódio, e seu medo. Eles têm a chance de ver a terrível verdade daquele “como estou agora, então você deve estar” realmente significa. Vendo a forma como o corpo se decompõe, e meditando sobre a decadência, isso abre a consciência de que há um lugar em que você não tem nada a ver com o corpo – nem com a decadência.

Essa combinação me levou, já em 1963, a começar a trabalhar com pessoas morrendo e a estar disponível para elas. Não sou médico. Não sou enfermeiro. Não sou advogado. Não sou sacerdote ordenado. Mas o que eu posso oferecer a outro ser humano é a presença de um ambiente sagrado, espaçoso. E posso oferecer-lhes amor. Nesse espaço de amor, eles têm a oportunidade de morrer como eles precisam morrer. Não tenho o direito moral para definir como uma outra pessoa deveria morrer. Cada indivíduo tem seu próprio karma – seu próprio material para trabalhar. Não é meu trabalho dizer: “Você deve morrer bem” ou “você deve morrer desta ou daquela maneira.” Não tenho nenhuma idéia de como outra pessoa deva morrer.

Quando a minha mãe biológica estava morrendo em um hospital de Boston em 1966, eu via todas as pessoas entrando em seu quarto. Todos os médicos e parentes diziam: “Você está olhando melhor, você está indo bem.” E então eles saiam da sala e diziam: “Ela não vai durar uma semana.” Pensei quão bizarro era que enquanto um ser humano estava passando por uma das transições mais profundas em sua vida, e ter todas aqueles que ela conhece, ama e confiança, mentindo pra ela.

Você pode sentir a dor disso? Ninguém era direto com minha mãe porque estava todo mundo muito assustado. Até mesmo o rabino. Todos. Ela e eu conversamos sobre isso e ela disse: “O que você acha que é a morte?” E eu disse: “Não sei, mãe. Mas eu olho pra você e você é minha amiga, e parece que você está em um prédio que está queimando, mas você ainda está aqui. Eu suspeito que, quando o edifício queimar totalmente, ele vai embora, mas você ainda vai estar aqui”. Então minha mãe e eu só nos encontrávamos naqueke espaço.

Com Phyllis, minha madrasta, eu estava mais aberto, e ela podia perguntar o que quisesse. Não disse: “Agora, deixe-me aconselhá-lo sobre a morte”, porque ela não teria aceitado isso. Mas então veio o momento em que ela soltou, ela se rendeu, foi como assistir a um ovo quebrando e vendo uma radiante beleza surgir, e ela era clara, e no presente, e alegre. Foi um Ser que sempre, em algum nível, ela sabia que era. Mas ela tinha estado muito ocupada toda sua vida adulta para reconhecê-lo. Agora ela se abriu pra este belo Ser na essência de quem ela era, e simplesmente se deleitou com seu brilho.

Naquele momento, ela entrou em um outro plano da consciência, onde ela e eu estávamos completamente juntos, apenas existindo. Todo o processo de morrer eram apenas momentos de fenômenos que estavam acontecendo. Mas quando ela se rendeu, ela não estava mais ocupada morrendo, ela estava apenas sendo… e a morte estava acontecendo.

No seu último momento, ela disse: “Richard, me coloque sentada.” Então eu a sentei e colocar suas pernas sobre a borda da cama. O corpo dela estava caindo pra  frente, então coloquei minha mão em seu peito e seu corpo foi pra trás. Então coloquei minha mão em suas costas. Sua cabeça estava meio pendurada, então  coloquei minha cabeça junto da cabeça dela. Estávamos apenas sentados juntos lá. Ela respirou três vezes, três respirações muito profundas, e se foi. Agora, se você ler o livro tibetano dos mortos, vai ver que o caminho que os lamas conscientes deixam seus corpos é sentando-se, fazendo três respirações profundas e, em seguida, indo embora.

Então, quem foi minha madrasta? Como é que ela sabe como fazer isso?

Ramana Maharshi foi um grande santo indiano. Quando estava morrendo de câncer, seus devotos disseram: “Vamos tratá-lo.” E Ramana Maharshi disse: “Não, é hora de deixar este corpo”. Seus devotos começaram a chorar. Rogaram-lhe, “Bhagwan, não nos deixe, não nos deixe!” Ele olhou-lhes e às suas confusões e disse: “Não sejam bobos. Onde eu poderia ir? “Você sabe, é quase como se ele estivesse dizendo:” Não faça tanto barulho. Eu só estou vendendo o carro velho da família.”

Esses corpos em que vivemos, e o ego que se identifica com ele, são como o velho carro da família. Eles são entidades funcionais em que a nossa alma viaja através da nossa encarnação. Mas quando eles estão usados??, eles morrem. A coisa mais graciosa a fazer é apenas permitir-lhes morrer em paz e, naturalmente – para “soltá-los levemente”. Por tudo isso, o que somos é Alma… e quando o corpo e o ego se forem, a Alma vai viver, porque a Alma é eterna. Eventualmente, em alguma encarnação, quando nós terminarmos nosso trabalho, nossa alma pode fundir tudo e voltar para o Uno… de volta para Deus… de volta para o Infinito. Nesse meio tempo, nossa Alma está usando corpos, egos e personalidades para trabalhar com o karma de cada encarnação.”
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“Morrer antes de morrer." Morrer para o ego, aí encontramos a vida Real, que vai além da forma, vai além da mente...


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Cuide Bem de Você, a possibilidade de "morrer" antes de morrer é grande!

17 de junho de 2013

O Ego em ação

"A alma é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose..." Rubem Alves

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Adyashanti 2/2

"Uma vez o meu mestre me disse: “Se espera que a mente pare, você vai esperar para sempre”. De repente tive que refletir sobre a minha possibilidade de iluminação. Eu vinha tentando parar a minha mente havia muito tempo e eu sabia que tinha que encontrar uma outra via de acesso.

A instrução espiritual de “apenas parar” não se dirige à mente, aos sentimentos ou à personalidade. Dirige-se à reflexão ou pensamento posterior que assume o crédito e a culpa e diz: “Isso é meu”. Pare! Esse é o alvo do ensinamento de parar. Apenas pare com isso. E daí, nesse momento, sinta como esse sentido de “eu” se sente tão completamente desarmado. Quando se desarma o sentido de “eu”, ele não sabe o que fazer, se ir para frente ou para trás, para direita ou para esquerda. Eis o tipo de parar que é importante. O resto é só um jogo.

Então, nesse parar, começa a emergir um diferente estado de ser, um estado indiviso. Por quê? Porque não estamos mais em conflito com nós mesmos.
A mente ouve estas palavras e pergunta: “O que é um estado de ser indiviso?” Isso também é perder o que está acontecendo agora mesmo. A gente sente um estado indiviso de ser; ele não pode ser encontrado nalgum espaço abstrato ou conceitual, porque o próprio espaço é um estado dividido. Tocamos o estado indiviso quando nos permitimos estar desarmados, quando não estamos tentando provar ou negar nada e ficamos naquele estado de ser desarmado sem resistência.

Surge um estado de literalmente estarmos no corpo e além do corpo, e o corpo já não está mais em guerra consigo mesmo. A mente pode ou não estar tendo pensamentos, mas esses pensamentos não estão em guerra entre si. Torne-se curioso sobre a verdadeira natureza de si mesmo, sobre quem você realmente é, porque essa curiosidade o abre para o estado indiviso. A partir do estado indiviso, uma das primeiras coisas que se percebe é que você não sabe quem você é. Antes disso, quando você sabia quem você era, você era dividido – interminavelmente. A partir daqui, onde não há divisão, não há o pesado, restrito e confinado sentido de si. Você se torna um mistério.

A divisão facilita que se encontre um sentido de si. Se estivermos com raiva, por exemplo, é aí que ele está. Mas, quando há somente raiva e não há identificação com a raiva, até a própria raiva de repente se desdobra. E então o que eu sou? Não sou a “minha” raiva, se não sou aquele que está dividido – o que sou eu?

Permita que o mistério de ser se desdobre de uma maneira vivencial. Comece ao nível do ser mais do que do pensar. À medida que se desdobra o mistério, vamos ficando cada vez mais radiantes por sermos apenas esta consciência presente. E daí o sentido de identidade começa a deixar de se definir através da divisão e conflito internos. A mente descobre que não há um gancho para pendurar a identidade, de modo que a identidade começa a desestruturar-se em abertura. Misteriosa e paradoxalmente, quanto mais se desestrutura a identidade, mais vivos e presentes nos sentimos. O sentido de si é como se fosse açúcar a dissolver-se na água até que parece não haver mais um eu e todavia ainda existimos.

É possível que Buda dissesse: “Dissolvido todo o açúcar, não há eu”. Ramana Maharshi poderia dizer: “Dissolvido o açúcar na água, água e açúcar são a mesma coisa – há somente o Eu”. A máxima liberdade do ego inexistente é vermos que na verdade ele é irrelevante. Enquanto for percebido como relevante, ele continua a “tornar-se”. Todas as boas intenções do mundo simplesmente o abastecem. “Estou me livrando de mim mesmo cada vez mais a cada dia e um dia estarei completamente livre de mim mesmo e absolutamente não terei ego”. Como isso soa para você? É ego. Mas, quando num momento de discernimento se vê que o eu é irrelevante, termina o jogo. É como alguém que está jogando banco imobiliário e acha que sua vida depende de ganhar o jogo, quando de repente a pessoa se dá conta de que é irrelevante – não importa. Pode até continuar jogando. Pode ir buscar um sanduíche. Esta vida não trata de vencer o jogo espiritual; trata de acordar do jogo.

Há ainda em nós esta outra parte chamada “condicionamento”, que não é ego. Condicionamento é condicionamento; não é condicionamento egóico. Condicionamento é como se instalássemos um programa no computador mental. Quando se instala o programa, isso não significa que o computador tenha um ego. Simplesmente foi condicionado temporariamente. Na idade em que nos tornamos adultos, o corpo-mente já está completamente condicionado. Por esse condicionamento tem-se culpado o ego, mas o condicionamento não vem do ego. O ego é o pensamento que surge em seguida na esteira do condicionamento, que é onde acontece toda a violência real.

Quando se percebe que o condicionamento é como uma programação fornecida pela codificação genética, pela sociedade, pelos pais, professores, gurus, etc. (a mente também começa a condicionar-se a si mesma, mas essa é outra história), começamos então a reconhecer que o condicionamento não tem nenhum eu, que não há a quem culparmos. É inútil culparmos a nós mesmos, ou outra pessoa, mais do que culparíamos nosso computador quando colocamos nele um disco. Olhe no presente momento para ver qual condicionamento está aí e ver-se-á que não há culpa alguma nele. Ele faz parte da existência. Sem condicionamento ou programação em nossos corpos, pararíamos de respirar, o cérebro tornar-se-ia uma conversa mole, sem inteligência – o que também é condicionamento.

O que mantém o condicionamento firmemente ancorado dentro de nós é que o interpretamos como “meu”. Então, é claro, há culpa própria e alheia e tentamos nos livrar do condicionamento, porque cremos que “eu o criei”, “eu não o criei” ou “não consigo me livrar dele”, e a mente não gosta disso. A mente se ilude em pensar que pode livrar-se desse condicionamento, mas, quando a verdade se instala, começamos a ficar cada vez menos divididos. Quando surge o condicionamento, se não é reivindicado como “meu”, ele surge dentro de um estado indiviso.

Este também poderia chamar-se de estado de ser não condicionado. Quando o condicionamento depara com um estado indiviso, há uma transformação alquímica. Há um milagre sagrado. Quando algo surge, pode-se ter a experiência de que “isto sou eu” ou de que “estou eu aqui de volta” – isto não sou eu”. Ambos são movimentos da mente, ou pensamento posterior, mais conhecido como ego. Mas quando ocorre o estado indiviso, podem acontecer duas coisas. A primeira pode ser um despertar para a nossa verdadeira natureza, que é este estado não dividido, este ser indiviso. A segunda coisa que pode acontecer é que o condicionamento, a confusão que inocentemente foi transmitida pela ignorância, pode reunificar-se. Quando surge o condicionamento dentro de uma pessoa que está num estado indiviso, onde ela nem se apropria dele nem o nega, então pode haver um processo alquímico sagrado através do qual o condicionamento se reunifica totalmente por si. Como a lama na água, o condicionamento naturalmente apenas sedimenta no fundo. É como um milagre natural.

Isso pode ser muito delicado, pois, se houver a mínima apropriação ou a mínima negação de apropriação, esse processo de certa forma se corrompe. Ele requer de nós uma suavidade e abertura interiores, porque este sentido indiviso é muito suave e não podemos procurá-lo como um martelo à procura de um prego. É por essa razão que os ensinamentos espirituais ressaltam a humildade, a qual nos ajuda a entrar na verdade de nosso ser de uma maneira suave e humilde.

Não podemos forçar os portões do céu. Ao invés, devemos nos permitir ficar cada vez mais desarmados. Então a pura consciência de ser fica cada vez mais radiante e percebemos quem somos. Essa radiância é o que somos.

Quando fica muito claro, vemos que somos esta claridade, esta luminescência, e então começamos a perceber por nossa própria experiência o que significa este nascimento humano. Esta claridade volta para si mesma, para cada tantinho de confusão, para cada tantinho de sofrimento. Para tudo de que o eu procurava se afastar, retornará o Eu sagrado. Este Eu radiante começa a descobrir sua verdadeira natureza e quer libertar-se de si, desfrutar de si e verdadeira amar-se em todos os seus sabores e aromas. O verdadeiramente sagrado é o amor ao que é, não o amor ao que seria. Este amor liberta o que é.

O verdadeiro coração de todos os seres humanos é o amante do que é. É por isso que não podemos fugir de nenhuma parte de nós mesmos. Não porque sejamos um desastre, mas porque somos conscientes e estamos retornando para tudo de nós mesmos neste nascimento. Não importa quão confusos estejamos, retornaremos para cada parte de nós mesmos que foi deixada fora do jogo. Este é o nascimento de verdadeira compaixão e amor. Há muito tempo dizem as tradições espirituais que você tem que eliminar tanta coisa para alcançar o amor. Mas isso é um mito. A verdade é que é o amor que realmente liberta."

Adyashanti em Satsang

Fonte
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Cuide Bem de Você
www.cuidebemdevoce.com
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